Por Túlio Almeida S. Figueiredo. Psicólogo Clínico (CRP-03/8824) na SAMEC, atua há 12 anos como psicoterapeuta, é especialista em Saúde Mental Coletiva (Ruy Barbosa), Mestrando no PPGNEIM/UFBA. Há cinco anos facilita rodas de Terapia Comunitária no contexto da saúde mental, em Quijingue/BA.
Se você estiver passando por um momento difícil, procure o Centro de Valorização da Vida (CVV), que oferece atendimento gratuito e sigiloso por telefone (no número 188).
O suicídio de Pedro Henrique dos Santos, um estudante de 14 anos, ficou bastante conhecido nacionalmente nos últimos dias. O caso foi divulgado em grandes portais de notícias, como: a Folha de São Paulo, o Correio, Revista Piauí, entre outros. Nestes sites, algumas reflexões pertinentes foram feitas sobre esta tragédia, que desvela as consequências graves do racismo e da homofobia na vida de adolescentes negros e LGBTQIA+ no Brasil.
Pedro, um jovem negro, periférico e abertamente gay, tirou sua própria vida no dia 12 de agosto de 2024, após enfrentar um longo período de isolamento e bullying, em um ambiente escolar que deveria ter sido um espaço de acolhimento e desenvolvimento. Pedro era um jovem inteligente e muito estudioso. Ele conquistou uma bolsa integral no Colégio Bandeirantes, uma das instituições de ensino mais prestigiadas de São Paulo, através do rigoroso processo seletivo do “Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos” (Ismart). Para sua família, essa conquista representava uma oportunidade de futuro promissor. No entanto, a realidade dentro da escola foi marcada por exclusão, solidão e preconceito.
Apesar de sua inteligência e dedicação, Pedro encontrou muitas dificuldades para se socializar. Como muitos jovens negros e LGBTQIA+ em ambientes majoritariamente brancos e de classe alta, ele enfrentou o peso do racismo e da homofobia, que se manifestaram em formas sutis, e outras de maneiras diretas de violência psicológica, como: ser ignorado, ridicularizado, o que configura o fenômeno de Bullying. Seus colegas, em sua maioria, não compartilhavam da mesma realidade de vida, o que agravou seu sentimento de deslocamento e isolamento.
A história de Pedro é um reflexo das múltiplas camadas da opressão que muitos jovens negros e LGBTQIA+ enfrentam diariamente. Ele foi alvo de piadas e violências psicológicas por conta da sua identidade e origem, esses marcadores sociais foram motivos para ser tratado como diferente e menos merecedor. O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de acolhimento, acabou por se tornar um lugar de intenso sofrimento e exclusão.
O suicídio de Pedro Henrique nos convoca para as realidades cruéis do racismo, da homofobia e da exclusão social, que é reflexo de uma sociedade com preconceitos históricos, que estamos longe de superá-los. Esses casos de suicídios não são isolados; eles estão profundamente enraizados em nossas relações sociais e têm consequências graves para a saúde mental de jovens que se veem constantemente marginalizados e desumanizados.
Falar sobre suicídio, setembro amarelo, portanto, é também falar sobre racismo, discriminação e homofobia. É necessário que as escolas, famílias, comunidades, e profissionais da saúde – e saúde mental também – estejam cientes do impacto devastador que o preconceito pode ter sobre a saúde mental dos jovens. Precisamos criar espaços de cuidado coletivos, rodas de conversa, ambientes mais inclusivos e acolhedores, onde a diversidade seja celebrada e onde todos os alunos e alunas, independentemente de sua cor, classe social ou orientação sexual, possam se sentir seguros e apoiados.
O caso de Pedro é um alerta, um chamado urgente para que todos nós, como sociedade, busquemos novas estratégias de enfrentamento diante do racismo e da homofobia, que são ensinados e aprendidos desde a infância. Trabalhemos ativamente para que os jovens como Pedro possam viver plenamente, sem o peso esmagador do preconceito. Para que outros “Pedros” não venham a sofrer gravemente ou busquem uma solução fatal diante desta realidade brutal, que é o racismo e a homofobia no Brasil.
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